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Quais as diferenças entre a comunicação feminina e masculina?

Você conhece os assistentes digitais? A Alexa, Siri, Bixby, Google Assistente, Lu do Magalu, BIA do Bradesco e a Joice da Oi … te chamou a atenção o fato de que a maioria das assistentes digitais são femininas?


O que entendi, ao longo desses anos estudando esse “fenômeno”, é a ausência de mulheres nas equipes que criaram esses serviços. Fazem anos que os relatórios alertam para o perigo de se perpetuar a imagem de uma mulher serviçal com o lançamento de mais e mais assistentes femininas, e isso traz um sério risco da IA sofrer assedio na mão de usuários homens.



Em resposta a essas críticas, algumas medidas foram tomadas e hoje, uma boa parte das assistentes mais usadas do mercado têm a opção de uma voz masculina, mas mesmo assim, a voz feminina prevalece. A SIRI feminina deixou de ser voz padrão desde 2021, o usuário pode escolher o tipo de voz. Em 2022 a Apple lançou uma voz não binária e livre de estereótipos de gênero. O desafio não foi apenas gerar um tom que não seja nem feminino, nem masculino, mas principalmente mudar o vocabulário da assistente. Você deve estar se perguntando por quê? Porque mulheres e homens não se expressam igualmente.

 

Afinal, homem e mulher falam de forma diferente?


As diferenças entre a comunicação de homens e mulheres são estudadas há séculos. Em 1922 o linguista dinamarquês Otto Jespersen escreveu que mulheres eram “pouco originais” em seu discurso. E que se, naquela época um homem fosse falasse como uma mulher, ficaria rapidamente entediado por conta da natureza da conversa feminina.

 

Análises mais recentes mostram que as mulheres, possuem pronúncia mais correta e seguem a gramática com mais frequência do que os homens. Elas usam mais advérbios de intensidade, diminutivos e adjetivos no  seu dia a dia, o que indica sua maior sensibilidade ao ambiente e expressão mais emotiva.


Existem muitas marcas na fala das mulheres que denotam educação e um tipo de “colaboração”, como se elas levassem sempre em consideração a opinião de outros. Evitam verbos no imperativo e, mesmo quando dão ordens, usam palavras para amenizar a sensação autoritária.


Exemplo: uma mulher falaria “você pode me ajudar, por favor?”, enquanto um homem adotaria uma abordagem mais direta com “por favor, me ajuda” .


A linguista estadunidense Robin Lakoff, especialista em questões de gênero, analisa que mulheres respondem perguntas com um tom inseguro (mais agudo) mesmo quando têm certeza do que estão falando, como se a fala feminina trouxesse um efeito de ausência de confiança e poder, sendo que o discurso masculino é o oposto disso — seguro, autoritário e severo.

 

E de onde vem essa falta de confiança? Quando exatamente nós, mulheres, aprendemos a falar assim?


“Isso não é coisa de mocinha”


Comunicação é uma competência que é aprendida, e para isso  não basta ter uma boca funcional e pregas vocais que funcionem adequadamente. A comunicação, que é o ato de transmitir uma informação e ela ser recebida corretamente pelo outro, para que seja eficiente e eficaz, deve ser aprendida para que possamos praticar de fato. Aprendemos quando, desde muito pequenos, observamos outras pessoas e modelamos nosso comportamento de acordo com nossas análises, que são diretamente afetadas pelo contexto em que vivemos. Outros pontos que interferem  são as diferenças culturais, regionais, socioeconômicas. Mas vamos aqui focar em gênero.


Segundo Simone de Beauvoir, não se nasce mulher, torna-se mulher. Aprendemos a linguagem e a nos comunicar, aprendemos a agir de forma “feminina”. Esses dois aprendizados acontecem ao mesmo tempo e se sobrepõem na nossa criação. O que acontece quando uma criança cresce rodeada de comentários como “menina não fala palavrão”, “não seja mandona”, “se comporte feito uma mocinha”! Quando se torna adulta, ela se transforma em uma mulher que não dá ordens diretas, não impõe sua fala mesmo quando acredita no que diz. Uma mulher que não é escutada, mesmo quando fala.


Ao mesmo tempo, uma menina confiante tem grandes chances de ser isolada do seu grupo de amigas por “se achar demais”. Já os meninos são acostumados desde cedo a brincar em grupos com relações desiguais de poder. Por isso, desde cedo, aprendem a se desafiar entre si (de forma amistosa), a mostrarem suas habilidades e conhecimentos para que “subam” de status dentro do seu círculo social, a competir. Essas realidades muito diferentes durante a infância, são absolutamente notadas quando comparamos a comunicação feminina e a masculina.


Mulheres são mais colaborativas, aproveitam as opiniões dos outros e dão sinais constantes de afirmação. Sua conversa flui de maneira agradável, para que todos estejam no mesmo “nível”. Isso coincide com a imagem criada para a feminilidade, e  de que mulheres não devem ser desagradáveis nem insensíveis. As mulheres priorizam dar apoio, e não impõem sua influência em conversas, elas gostam de estabelecer intimidade e dar a impressão de que todos os envolvidos são íntimos.

 

 Segundo a linguista Deborah Tannen:


“Para mulheres, uma parte importante da vida consiste no esforço de desenvolver e preservar intimidade. Intimidade é um fator importante num mundo de conexões onde indivíduos negociam redes complexas de amizade, minimizam diferenças, tentam chegar a um acordo e evitam dominâncias aparentes. Mulheres tendem a pensar nas interações sociais de maneira não-hierárquica, e evitam assumir o papel de expert numa conversa com a intenção de minimizar a distância social entre os participantes.”

 

Os homens têm uma abordagem competitiva, quando estabelecem dominação e relações assimétricas de poder, valorizam aspectos como independência e competência. No seu livro “Men Talk” (2003), Jennifer Coates explica que os homens usam as conversas como negociações, para eles é natural que alguém tenha vantagem, e por isso não se sentem desconfortáveis em serem “superiores” e autoritários.


As análises de conversas entre homens e mulheres mostram diferenças entre essas abordagens. Os homens interrompem mais as outras pessoas, um sinal típico de abordagem competitiva e disputa pela fala. Ao mesmo tempo que as mulheres são mais pacientes quando interrompidas e esperam o outro concluir seu raciocínio, mesmo quando querem dizer algo.


Mulheres incentivam os outros a participarem das suas conversas, mostram que querem ouvir, ao passo que homens interrompem porque querem ser ouvidos. Eles ficam confortáveis com a ideia de assumirem monólogos e serem os únicos a falar, esse comportamento dá a oportunidade de agirem como especialistas e ganharem autoridade — e, com isso, respeito.


Por isso, a abordagem colaborativa das mulheres leva a um maior compartilhamento de informações, discussões, ideias e conforto. Já a veia competitiva masculina traz soluções, ordens e também sermões do tipo “eu-estou-certo-e-você-está-errado”.

 

E então, como é que isso aparece e se equilibra no ambiente de trabalho?


O lugar da fala da mulher no ambiente corporativo.


- Pesquisas indicam que 80% das mulheres já sofreram microagressões no trabalho

- mulheres tem 10% mais chances de serem interrompidas em reuniões e conversas de trabalho

- 45% das mulheres em cargos de liderança compartilham o fato de ser difícil se fazer ouvida em reuniões virtuais

 

Outros números mostram que mulheres recebem menos promoções e menos aumentos salariais, além de serem minoria em cargos de liderança (35% em média). Somado a tudo isso, também tem as questões de linguagem que comentei anteriormente, ficando fácil compreender os desafios da comunicação feminina no mundo corporativo. Isso é resultado de não termos sido ensinadas a nos valorizar, a apresentar nossas competências, sem nos sentir arrogantes por isso, em como opinar e impor nossa opinião.


Mulheres não se silenciam só por não sentirem firmeza em se expressarem, mas também porque ao falarem, não costumam ser ouvidas. Pesquisas mostram que a opinião de uma mulher influencia um grupo se ele tiver a sua maioria feminina. Isso não quer dizer que as mulheres não têm boas ideias; muito pelo contrário. Os grupos com conclusões iniciadas por mulheres, com uma abordagem mais colaborativa e menos competitiva, apresentaram maior índice de satisfação.


Mas ao mesmo empo, essa colaboração motivada pelas mulheres pode ser perigosa. Uma das marcas linguísticas das mulheres é usar sempre a primeira pessoa do plural ao sugerir alguma ação ou até mesmo para dar ordens (ex.: “nós podemos fazer…”). Alguns relatórios indicam que lideres femininas têm falas mais “suaves”, mais bem-recebidas por seus subordinados colaborando com o bem-estar da equipe. Mas quando analisados por pessoas de fora do grupo ou empresa, parece que a liderança é suave demais.


Em uma dinâmica, após uma mulher apresentar sua ideia, um dos participantes homens dominou a discussão em torno dela. Ao ser questionada pela mediadora por não ter reivindicado crédito por sua sugestão, a mulher respondeu que seria uma autopromoção dizer que “essa ideia é minha”.


Vamos ser realistas?????


Em uma empresa, recebe a promoção aquele funcionário que se destaca! Se você é empresária ou empreendedora, ganha a concorrência quem se mostra.


No LinkedIn falam o tempo todo: “quem não é visto não existe”. Por isso, conduzir reuniões e conversar com superiores é algo extremamente importante para definir aumentos. Enfim, homens, com sua abordagem aparentemente mais assertiva, podem roubar o crédito de mulheres mesmo sendo menos competentes do que elas.


E agora, vamos falar algo muito importante: líderes ou contratantes costumam recompensar funcionários ou contratar empresas que tenham uma linguagem semelhante à sua própria. Isso que dizer que, um chefe homem (em sua maioria) tem mais facilidade em reconhecer o merecimento de outro homem do que de uma mulher. O mesmo acontece com as mulheres líderes.


Fale como uma mulher


Não existe qualquer evidência de que a abordagem mais colaborativa das mulheres no ambiente de trabalho seja negativa ou menos qualificada do que uma atitude mais competitiva como a dos homens. Na verdade, o que acontece é que mulheres em cargos de liderança costumam engajar muito mais suas equipes, isso que pode gerar muitos benefícios como o aumento significativo de produtividade da empresa.


Outro ponto muito importante é sempre lembrar que nossa linguagem é a nossa identidade. A cada escolha do que falamos, como falamos, uma gíria, um termo, um tom de voz, contamos um pouco mais de quem somos, do que pensamos, de como vemos a vida.

 

E por isso que eu não acredito que nós mulheres temos que nos masculinizar, nos vestir como homens, falar como homens, nos comportar como homens. E falo mais, isso nunca funcionou comigo. Minhas maiores perdas foram quando eu quis ser dura demais, impositiva demais.

 

Não quero estabelecer relações de poder, ser altamente impositiva. Gosto de ouvir, de estar com meus times, de ouvir e contar com a colaboração de todos. compartilhar ideias, ouvir o que os outros têm a dizer. Nós mulheres temos características maravilhosas que são só nossas, que trazem para nossos relacionamentos a nossa intuição, a nossa feminilidade, o nosso instinto materno. E isso que nos faz termos uma liderança sem igual.


Não devemos mudar a forma que falamos, que sentimos. Devemos sim, mudar nosso conceito de “autoridade”, fazer com que falas importantes sejam ouvidas no ambiente de trabalho. Uma líder gentil pode ser tão habilidosa quanto um líder conservador e, dessa forma colaborar no debate da saúde mental que está ganhando cada vez mais espaço, trazendo um modelo de liderança mais empático com foco no ser humano. Um time de pessoas engajadas e reconhecidas, mais felizes, tem um desempenho e resultado significativamente melhores , e uma vez que as pessoas tem um senso de pertencimento, adoecem menos.

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